Desde há muito tempo que percebo que a nossa natureza é de nómadas recolectores, e o corpo desenhado para percorrer longas distâncias para se manter saudável. Uma das pessoas que mais me despertou o interesse para ver a natureza humana e o contributo do yoga na vida das pessoas foi o Professor Daniel Wolpert, que resume o seu trabalho e visão numa palestra do TED Talks: The Real Reason for Brains.
Ele faz a relação entre a existência do cérebro e a necessidade de se deslocarem, de se moverem, sendo que o inverso também se aplica, os seres vivos que não se deslocam não necessitam de cérebro. Quanto mais complexas as exigências de movimento e comunicação maior o cérebro da espécie em questão.
A minha natureza é mover-me.
Com uma carreira em dança, e a preparar atletas, o Yoga entrou com bastante naturalidade nas minhas rotinas. Fazia todo o sentido. Preparar corpo e mente com recurso apenas de 1,80m*0,60m de espaço, era excelente para ser completamente independente de máquinas de ginásio ou pistas de corrida, só era necessário o tapete de Yoga e mesmo esse não é fundamental. É uma ferramenta muito útil desde o início, muito funcional para mim e para os meus alunos.
Mas há outro conceito que faz todo o sentido: Liberdade. Liberdade é o centro de toda a prática de Yoga. A maior relíquia dos seres humanos de todos os tempos é a liberdade.
A sensação que o Yoga me trouxe de independência, foi rapidamente transformada em vontade de partilhar as mesmas ferramentas com os meus alunos.
A forma como vejo esta prática é claramente uma ferramenta do corpo, para a mente, mas principalmente para as emoções e para o espírito. E liberdade faz-me todo o sentido que seja central. Os gregos falavam em liberdade – Eleutheria – como liberdade de movimento, a capacidade de um corpo ir e voltar. Curiosamente eram quase sinónimos liberdade e poder, o poder de nos podermos movimentar.
Em Yoga, o que me apaixona é o desafio do controlo do corpo com a mente. Durante todo o processo de crescimento, como adultos ou no processo de envelhecimento, o controlo sobre o corpo e mente, é central. Yoga é união entre corpo e mente, entre mente e emoções, entre emoções e corpo. Mas também pode ser a união com a natureza ou com os outros seres humanos, conexão. Para haver uma conexão saudável com quem quer que seja, é necessário que as conexões comigo, com o meu corpo, com a minha mente e as minhas emoções estejam bem equilibradas, e no meu caso esse papel é muito bem desempenhado pela prática de Yoga. Até porque todos os dias acordamos de forma diferente e começar o dia, ou fechar o dia com os exercícios coordenados com a respiração devolvem-me bem-estar e equilíbrio.
Mas voltando ao início, ser forte e flexível fisicamente, ter energia, ter saúde, ter a capacidade de dar resposta ao que me proponho, é das maiores liberdades que posso alcançar. Seguem-se a liberdade da mente e das emoções. E aí tenho um exemplo gosto e que mostra a importância da interação das duas dimensões: vai ser a mente que, apesar do medo, que é emocional, incita à coragem. Após avaliar o contexto e medir o risco, mas tomando-o, ela permite aprendizagem e o armazenamento de memórias para atuar com coragem.
Se observar as questões emocionais mais conectadas com o Yoga e por esta prática trabalhadas:
- resistência à frustração
- a raiva (principalmente a autodirigida)
- o medo e a ansiedade
- a depressão e apatia
- questões associadas à autoestima
- o perfeccionismo e a motivação
- o tão mal-afamado stress
- competências sociais
- conexão com o outro
podem ser as nossas melhores ou piores competências como seres humanos: tudo vai depender de como as utilizamos. A prática de Yoga pode ajudar a equilibrar todo este turbilhão de modo a estas serem utilizadas a nosso favor.
Falo inúmeras vezes na Autorregulação: cada vez mais tenho a consciência da responsabilidade que tenho do tipo de energia e ambiente que levo para dentro de qualquer espaço que ocupe quando vou trabalhar, ou a um jantar com amigos, ou para qualquer interação com a minha família.
As emoções estão sempre no centro desta conexão e sem estar bem fisicamente não consigo estar bem emocionalmente, o mal-estar instala-se e a mente acompanha o estado. Sem estar bem, não consigo aceder ao meu potencial empático na direção dos outros. Coragem, empatia e vulnerabilidade sem restrições ou castrações, principalmente da nossa rede de pessoas mais próximas, são a chave para a conexão.
Em suma, é muito importante ser especialista numa ferramenta que regule e exponencie a minha capacidade de empatia e de me conectar, e o Yoga tem o poder de fazer isso mesmo, liberdade pela Autorregulação.